O objetivo de uma Limpeza Química é disponibilizar soluções seguras para a operação e para o meio ambiente, para atingir os melhores resultados. O procedimento deve ser elaborado com a escolha do(s) agente(s) químico(s) específico(s) para cada condição; as recomendações operacionais; os procedimentos de neutralização e passivação; os cuidados para o descarte dos efluentes; as compatibilidades químicas; etc.
O procedimento de limpeza química ideal é composto por várias etapas e deve ser cuidadosamente planejado por especialistas, para maximizar o sucesso da limpeza e minimizar os riscos aos equipamentos e principalmente, às pessoas envolvidas na operação. Um fator fundamental no sucesso da limpeza é a demonstração do ROI (retorno do investimento) a ser obtido e para isso, é necessário conhecer e entender muito bem o processo; os equipamentos envolvidos e qual é o impacto dessa incrustação no custo total da operação e para isso, é imperativo a participação do cliente nesta avaliação. Abaixo, apresentamos alguns itens importantes a serem considerados:
Coleta de Amostra(s) Representativa(s) do(s) Depósitos
Coletar amostra(s) representativa é fundamental para avaliação correta do depósito/incrustação a ser removido. Amostras coletadas no enchimento da torre, na válvula de descarga, de um flange ou de trechos sem circulação de água, etc., é mais fácil e rápido, porém, irão prejudicar a avaliação e poderá nos fornecer interpretações incorretas da composição dos depósitos e comprometer todo o processo de limpeza. Por outro, se coletarmos amostras na condição mais crítica do sistema e planejarmos todo procedimento com esta base, poderemos ter também interpretações incorretas do problema, pois a densidade depósito na condição mais crítica pode ser muitas vezes maior do que a média para todo o sistema, e pode representar apenas uma pequena área do sistema e não a maior parte dele.
Uma amostra representativa pode ser, no caso de uma caldeira, em uma secção de tubo ou do feixe tubular, que represente a maior parte do sistema/equipamento. A análise do material que raspamos da tubulação e do material acumulado no fundo pode até ser idêntica, mas a amostra raspada será muito mais representativa (verificar os procedimentos corretos para raspagem). O volume da incrustação/depósitos pode interferir no fluxo dinâmico das soluções de limpeza e isso também deve ser levado em consideração para determinarmos o tempo “estimado” para o processo de limpeza.
Depois da retirada da(s) amostra(s), é fundamental que sejam preservadas de forma correta e enviadas para o laboratório rapidamente para que sejam analisadas de forma prioritária e jamais serem armazenadas para análises posterior. Esse procedimento, deve fazer parte do planejamento do processo em questão. A desidratação da amostra pode causar diferenças drásticas no resultado e interpretação da análise, principalmente, se a amostra é predominantemente de crescimento biológico, lama e/ou lodo. Além da amostra, outras informações são fundamentais para a seleção dos produtos, tais como:
Testes em laboratórios com os agentes químicos que poderão ser utilizados para esta condição do sistema, também podem ser úteis no planejamento do procedimento.
Durante a limpeza química, o agente principal dissolverá a incrustação de maneira mais ou menos linear, a partir da superfície da incrustação até a parede do tubo.
Incrustações são depósitos densos, cristalinos e duros, que se formam sobre as superfícies de troca térmica e a mais comum é sem dúvida, o carbonato de cálcio, mas também encontramos com frequencia o fosfato de cálcio e de zinco, sulfato de cálcio, silicato de magnésio, silicatos de cálcio e magnésio e sílica. As incrustações são geralmente formadas quando se excede o limite de solubilidade dos elementos químicos dissolvidos, provocando sua precipitação. Algumas incrustações que se formam em sistemas de resfriamento possuem solubilidade inversa com a temperatura e tendem a se depositarem sobre as superfícies de troca térmica, que é a mais quente. Outras incrustações como o sulfato de cálcio, possuem solubilidade/temperatura relativamente linear, e são mais frequentemente encontradas no enchimento de torres de resfriamento, onde ocorre a concentração por evaporação.
Os depósitos inorgânicos mais comuns são:
Fouling são partículas provenientes de fontes externas ou por crescimento biológico. Esses depósitos possuem características moles e amorfas, como lama, areia, óleos, bactérias, algas e fungos. Geralmente, lama e areia se acumulam nas áreas de baixa fluxo, reduzem a área transversal disponível, aumentam as exigências de bombeamento e principalmente, comprometem a eficiência de troca térmica da torre de resfriamento e dos trocadores de calor. Os óleos hidrofóbicos e orgânicos podem ser provenientes de contaminações de processo ou de lubrificantes dos ventiladores das torres. Os depósitos biológicos podem ser facilmente removidos com dosagens de choque de biodispersante e oxidantes, com variações de pH e a biomassa pode se desprender e ser eliminada pelas purgas do sistema. A atividade microbiológica sob depósitos ou tubérculos é protegida por uma camada de óxidos e sais. Os depósitos “cobertos” devem ser removidos para expor a área afetada. Com os depósitos de fouling, o bloqueio total da linha não é geralmente o principal problema. A maior preocupação é que esses depósitos darão início à células de corrosão sob depósitos, provocando a corrosão microbiológica (MIC).
Os depósitos de fouling podem ser misturas simples ou complexas de substâncias orgânicas e inorgânicas. Os depósitos orgânicos incluem:
A tabela a seguir apresenta as possíveis alternativas doa agentes químicos em relação à composição do depósito:
Agentes | CaCO3 | CaSO4 | CaPO4 | Mn | MnSiO2 | ZnPO4 | SiO2 | Fe2O3 | CuO | Óleos |
Ácido Clorídrico | E | E | E | E | NR | E | NR | E | E | NR |
Ácido Clorídrico + Bi Fluoreto de Amônia | NE | NE | NE | E | E | E | NE | E | E | NR |
Ácido Sulfúrico | NR | NR | NR | E | NR | E | NR | E | E | NR |
Ácido Sulfúrico + Bi Fluoreto de Amônia | NR | NR | NR | E | E | E | NE | E | E | NR |
Ácido Fosfórico | NR | NR | NE | E | NR | NE | NR | E | E | NR |
Ácido Sulfâmico | E | NR | NE | E | NR | NE | NR | NE | NE | NR |
Ácido Fórmico | E | NR | E | E | NR | E | NR | NE | NE | NR |
Ácido Fórmico + Ácido Fluorídrico | E | NE | NE | E | E | E | E | NE | NE | NR |
Ácido Acético | E | NR | NR | NR | NR | NR | NR | NR | NR | NR |
EDTA | NE | NR | NE | E | NR | NE | NR | E | NE | NR |
EDTA + NaOH | NR | NR | NE | E | NR | NE | NR | E | NE | NR |
EDTA + Amônia | NR | NR | NE | E | NR | NE | NR | E | E | NR |
Ácido Cítrico + NaOH | NR | NR | NE | E | NR | NE | NR | E | NE | NR |
Ácido Cítrico + Amônia | NR | NR | NE | E | NR | NE | NR | E | E | NR |
Ácido Hidroacético + ácido Fórmico + ácido Fluorídrico | NE | NE | NE | E | E | NE | E | E | NE | NR |
Ácido Glucônico | NR | NR | NR | NR | NR | NR | NR | NE | NR | NR |
Ácido Oxálico | NR | NR | NR | NE | NR | NR | NR | NE | NR | NR |
NaOH + Tensoativo | NR | NR | NR | NR | NR | NR | NR | NR | NR | E |
A seleção do procedimento correto de limpeza química não é de apenas considerar a composição dos depósitos, mas também conhecer a(s) metalurgia(s) envolvida(s) no sistema que irá sofrer a limpeza. Alguns agentes químicos podem ser extremamente agressivos à determinados metais e o processo de limpeza química pode provocar corrosão severa nesses sistemas, comprometendo o sistema como um todo de forma irreversível. Assim, é fundamental avaliarmos previamente toda a metalurgia do sistema onde será executada a limpeza, o que nem sempre é simples de se fazer, principalmente em sistemas antigos ou de equipamentos blindados (Isso deve fazer parte o planejamento do procedimento). Ver BLOG CHILLER – PROCESSO DE CORROSÃO.
A tabela abaixo ilustra a compatibilidade de alguns agentes químicos com a metalurgia do sistema:
Agentes | Aço Carbono | Ferro Fundido | Aço Inox | Cobre | Titânio | Ferro Galvanizado |
Ácido Clorídrico | AS | AS | I | AS | C | I |
Ácido Clorídrico + Bi Fluoreto de Amônia | AS | AS | I | AS | I | I |
Ácido Sulfúrico | AS | AS | AS | AS | C | I |
Ácido Sulfúrico + Bi Fluoreto de Amônia | AS | AS | AS | AS | I | I |
Ácido Fosfórico | C | C | C | C | C | I |
Ácido Sulfâmico | AS | AS | C | I | C | I |
Ácido Fórmico | AS | AS | C | C | C | I |
Ácido Fórmico + Ácido Fluorídrico | AS | AS | AS | C | I | I |
Ácido Acético | AS | AS | C | C | C | I |
EDTA | C | AS | C | C | C | I |
EDTA + NaOH | C | AS | AS | C | C | AS |
EDTA + Amônia | C | AS | C | AS | C | AS |
Ácido Cítrico + NaOH | C | AS | AS | C | C | I |
Ácido Cítrico + Amônia | C | AS | C | AS | C | I |
Ácido Hidroacético + ácido Fórmico + ácido Fluorídrico | AS | AS | AS | AS | I | I |
Ácido Glucônico | C | C | C | C | C | AS |
Ácido Oxálico | C | C | C | C | C | I |
NaOH + Tensoativo | C | C | C | C | C | I |
Devemos seguir a regra CTVT:
Concentração – Quanto maior a concentração da solução, maior será a velocidade de remoção dos depósitos
Tempo – Quanto maior o tempo de contato, maior será a taxa de dissolução dos depósitos
Velocidade – Quanto maior a velocidade de passagem da solução, maior será a velocidade de reação
Temperatura – Quanto maior a temperatura, maior será a velocidade da dissolução
A velocidade de uma reação é diretamente proporcional à concentração dos agentes químicos em relação ao tempo e são geralmente expressas em molaridade por segundo (M/s) e decresce com o tempo. A velocidade de formação do produto é igual a velocidade de consumo do reagente.
Velocidade da reação química pode ocorrer em escalas de tempo muito amplas, de fração de segundo à milhões de anos.
Fatores que influenciam na velocidade de remoção dos depósitos:
Velocidade de circulação: Quanto maior a velocidade da solução, maior será a velocidade de reação do agente químico de limpeza com os depósitos a serem removidos.
Temperatura: Quanto maior a temperatura, maior será a velocidade da dissolução (cuidado com as limitações do agente de limpeza e do inibidor de corrosão).
Concentração dos reagentes: Quanto maior a concentração maior a velocidade de remoção dos depósitos (atenção com o custo da limpeza e limitações ambientais).
Tempo de contato: Quanto maior o tempo de contato, maior será a taxa de dissolução destes depósitos (atenção com o tempo de disponibilidade). devemos considerar os “imprevistos”.
Esses quatro fatores que promovem a remoção dos depósitos também podem provocar corrosão na superfície metálica do sistema. Por isto, é imperativo o auxilio de um especialista, para que seja planejado com o máximo cuidado qual o tempo ideal de limpeza sem ultrapassar os limites de taxas de corrosão aceitáveis para a metalurgia exposta.
Com todas essas considerações acima, deverá ser planejado o procedimento mais adequado para a situação do sistema, devendo incluir também no planejamento, os seguintes pontos:
Este é um conceito básico que espero esclarecer esse tema, mas participe de nosso fórum e traga suas perguntas e dúvidas.
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